domingo, 23 de novembro de 2008

Sobre "Água Viva"




Adio esse momento desde que fechei aquele livro. Confesso que só agora, depois de angustiantes quatro horas, é que me senti pronta, ou pelo menos mais a vontade, para dizer sobre aquele que me disse. Essa é a intenção, mas pressinto não conseguir. A única frase que consegui rascunhar dizia que eu deveria ter o lido há exatos três anos. Mas esse rascunho esquece, até por ser sucinto demais, que naquele novembro se trataria de uma outra leitora. Talvez eu até estivesse preparada para as linhas, mas não para as entrelinhas. Mas sem dúvida, o maior despreparo foi para o encontro com a pior das verdades, contida numa página lida e esquecida, e que o livro fez questão de relembrar. Através de uma prosa tão poética, que deixa muita poesia em ciúmes, reli sobre a existência de um egoísmo tão profundo, o mesmo que foi incapaz de entregar-me a mim. Entrega óbvia, mas que me foi negada. Entregou-me a um espelho. Antes interpretei tal ato como egoísta. O tempo e muitas páginas lidas e escritas depois me fez o compreender como generoso, e porque não amoroso? Sim, pelo menos houve alguma espécie de entrega. Além disso, o egoísmo não deixa de ser amor, muito inclusive, mas a si mesmo. A compreensão da maldade e do seu inverso é lenta, mas importante, assim como a sua própria existência. É perda de tempo conceber uma vida sem inversos e reflexos. E mesmo que fosse possível, sem graça demais seria. E nessa linha final, registro que estava errada quanto ao meu pressentimento inicial.

Foto: Marco Aurélio Robalo dos Santos

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