quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

(Á)vida

Sempre tive o hábito de escrever e possuir blogs. Em todos eles a poesia sempre foi a maneira pela qual eu mais me expressava. Os meus raros momentos de prosa eram nos finais do ano, através de reflexões e balanços sobre o ano que ia. Então, me coloco contrária a minha última tendência involuntária de não atualizar este espaço, e faço as pazes com as palavras. Ainda que forçosamente. Aproveito e explico que a ausência não foi planejada, tampouco desejada. Apenas o ócio que se foi, e com ele muitas inspirações. As poucas que sobraram ainda não consegui encaixar nessa vida que apenas cabe dentro do relógio. Vida essa que escolhi e amo cada segundo. Ou melhor, em cada clique.

A decisão em si não foi difícil. Difícil foi enxergá-la como prioridade. E o pior, colocar prioridades que eu possuía até então em segundo plano. Inverter a ordem dos fatores é foda. E juro que altera o produto. É preciso ter talento para administrar qualquer coisa. Mas e para administrar a própria vida? Ela definitivamente pouco se importa se você possui ou não o tal do talento. E nem existe faculdade que ensine como desenvolvê-lo. Ou você tem e é feliz. Ou você não tem e não é. Simples assim. Complicado para burro. Pobre do bicho que substituiu um palavrão.

Acordei. Fiz um acordo comigo e conseqüentemente com aquele que me gerou. O mais difícil é passar por cima do orgulho. O mais fácil é chegar numa casa feliz.

Com isso amadureci. E não é que virei titia também?!?!?! Tia de verdade. A verdade é o que a gente acredita. E como filha única, é fácil crer que uma amizade com mais de 15 anos é algo fraternal.

Resolvi. De verdade resolvi. Apenas agradeço. Sempre. Talvez por isso nunca mais tenha aparecido por aqui. Perdi a vontade de fotografar o perfume. Mas ganhei vontade de fotografar vida. Ávida por vida.

obs: Perdão pelos erros de português. Vinte e cinco minutos nunca serão adequados para pensar, inspirar, escrever e corrigir.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

natal 2010

Na falta de palavras, uma fotografia que ilustra bem meu natal do bem:

sábado, 30 de outubro de 2010

o segredo da parede




o segredo para sermos?
erros e acertos
que se encaixam
como azulejos


figura: web.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Frustrações passeiam




As frustrações passeiam pelas ruas. Atravessam sinais e atropelam felicidades sinceras. Mas algumas, a sinceridade é tanta, que praticamente nada sofrem. No máximo arranhões. Imunes pela verdade. A violência da mentira mente quanto se considera mais forte e veloz. Esquece que está sempre sobre asfaltos. Todos cinzas, desprovidos de um colorido maior e tristes por criação.

Foto: Carla Silva

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

soco




Deu motivo sem perceber. Levou um soco. Os sonhos arroxearam pela quantidade de sangue preso. Não flui mais. Por enquanto gelo e tempo não resolveram. A recuperação lenta é da natureza dos hematomas psicológicos. O medo de encontrar a agressora tornou-se uma constante, assim como dos outros serem agressores em potencial.
A vontade de ignorar é grande. Um pouco maior é a de dizer umas verdades. Mas nada que a covardia maquiada pela educação da boa convivência não controle.

Foto: WEB.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

o quieto




a espera não faz parte
de qualquer sucesso

o quieto não cabe
num mundo onde os berros
são ditos suaves

o esperto é quem faz alarde
por nada e por pouco
certo de que os outros
são loucos e covardes


Foto: J.C

Em duas estações




Não percebo as cores da nova estação. A culpa não é dos óculos escuros. Nem da miopia. É da poeira que acumulou na vista. Já tentei passar pano úmido, seco e molhado. Joguei baldes de água também. E nada parece dissolver essa poeira cor de nublado. Sinto-me moradora de dois países. Vivo uma primavera lá fora que me contam, e um inverno aqui dentro que eu não conto.

Foto: Adir Luiz Ferreira

sábado, 18 de setembro de 2010

out




questa está out
questa está outra
questa está em outra
forma de viver
forma de sofrer
forma de velhice
que não deixa de ser
uma outra forma de infância
mas sem a ânsia constante por
uma outra forma


Foto: Joaquim Nobre

terça-feira, 14 de setembro de 2010

sangra




sangra aos montes
saber que da origem
ele se esconde covarde

é incrível, espanta
como a realidade
não espanca a sua face

pois então,
sem classe nos espanco
até que a raiva passe


foto: Flavio Morais

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

in-ser-to




nem sempre o caminho reto
é o que menos enjoa

o meu enjoou pelo protesto
do vento violento
cheio de poeira e folhas

o preço de ser inseto
que nem sabe porque voa
e pousa em restos
como escolha
de uma vida toda


foto: Márcio Luiz.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

preto e branco




quando era preto e branco
até o pranto
causava algum encanto ou apreço

mas hoje, com esse tanto de cores
não há engano, nem espanto
tudo se sabe sobre



Foto: José Filipe




a ex-pressão
de quem não
de quem sem
de quem nunca
faz o que convém
e de si fez a opção
segunda


Foto: Manuela Monteiro

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

do poço para o rio




é preciso de algo para ser dito
algo que sinta alívio
de não existir
só-mbrio pra si

algo antes poço
algo depois rio
algo como água

água que mata sede
e deixa vivo
úmido e limpo
o verde, a boca
os pelos, a louça

e se assim não for
qual o sentido?


Foto: Olga Maria Rodrigues da Silva

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

uma escolha




estou satisfeita em não dar satisfações
e refeita de alguns nós
todos prós e de acordo com meu sorriso
que não sei como
não se dá
pelos motivos habituais
dos outros...
normais?

- normal é ser feliz!
é a resposta que ouço

e o que digo, escolho


Foto: Luis Gomes

terça-feira, 6 de julho de 2010

pe-s-cado




a raiva a-trai
como uma isca
que cai
sem dar pistas
do seu porquê


Foto: Elio Goncalves

segunda-feira, 5 de julho de 2010

des-troços




enquanto a casa cai
o pranto estilhaça
a certeza sem cabimento
de crer em tijolo
e cimento

tolos enganos
construídos num canto
frouxo e com vento


Foto: Roberto Martins

segunda-feira, 21 de junho de 2010

um vento, por favor




a escassez do tempo ao avesso de novo
mas dessa vez com a insensatez
de ter o desejo de vento
e não de assopro


Foto: Horácio Graça

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Um abandono saboroso




Abandonei o blogg. Antes isso me causava enorme agonia. Agora nem sei o que me causa, mas nada negativo. Na verdade até me sinto um pouco melhor. Menos uma obrigação, ainda que esta seja daquelas que a gente inventa, sem nenhum dano concreto se não cumprida. Até queria mais obrigações assim, só pra ter o gosto de não cumprir. Essa é a parte chata de amadurecer, cada vez mais as coisas não podem deixar de ser cumpridas. DE JEITO NENHUM.

Foto: Cátia Saraiva

sábado, 29 de maio de 2010

Doença




Adoeço.
Esse é o preço
da recompensa.

Recompenso
Esse é o senso
da doença.


Figura: Web.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

mudez




a mudez in-forma uma expressão
morna e suave de quem sabe
que palavrear sem intenção
é insensatez e não uma mera
distração como era
até então


Foto: http://blogs.ua.pt/blogs/intangivel

domingo, 9 de maio de 2010

entulho


o entulho da sala
é o retrocesso
expresso por quem cala

além da falta de orgulho
também há
excesso de vergonha

um desafeto de barulho
para o quarto ao lado
que ainda sonha


Imagem: WEB.

terça-feira, 4 de maio de 2010

alergia


o lençol na janela venta para o sol
numa procura bruta que seca
a umidade doente de um lar
expressa nas manchas de mofo
e na ânsia de todos em espirrar


Foto: Galeria de árticotropical

terça-feira, 27 de abril de 2010

farelos para uns, cacos para outros




o descaso do acaso
abandona farelos
que pra pés sem chinelos
são como cacos

um passo errado
o vermelho é certo
antes um sonho disperso
depois um pesadelo caro

para um distraído
não existe errado
tampouco o certo
apenas vidros
:
objetos intrometidos
e indelicados


Foto: Ines

segunda-feira, 19 de abril de 2010

uma tentativa de verdade sobre o "só dez por cento é mentira"




Sábado não foi um dia qualquer. Até seria, caso não tivesse tomado a decisão de ir ao cinema. O incrível diante dos meus olhos. Para eles sobraram lágrimas. Para meu semblante, um sorriso. Sempre fui apreciadora das palavras, principalmente quando estão a serviço da poesia. Por isso Manoel de Barros nunca me foi distante, mas também não tão perto quanto gostaria. Descobri o porquê. Uma timidez traduzida por muitos como aversão às entrevistas, câmeras e sucesso (como geralmente é concebido). Uma postura incomum, mas ser comum seria impossível para um ser que transvê o mundo como ele. Segundo o próprio: “O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê.” Assistir a um documentário sobre poesia onde as rimas e as estruturas parecem inexistir, enquanto que a beleza existe na mesma proporção, ou até de forma absoluta, é entrar em contato no que há de mais moderno no que é feito dentro do gênero hoje. O impressionante é essa modernidade toda ser feita por um sujeito que possui noventa e quatro anos e que basicamente trata das “insignificâncias” da natureza. Admiração e orgulho é tudo o que possuo por esse ser. Encerro aqui. Uma enorme timidez me abate ao tentar escrever algo sobre alguém que diz que “Quem anda no trilho é trem de ferro, sou água que corre entre pedras: liberdade caça jeito.”

Ilustração: Karmo.

terça-feira, 13 de abril de 2010

mundo




o mundo esgota
gota por gota
do fundo para a crosta
das nuvens para as pessoas

o mundo enjoa
de privada em privada
sopas reviradas
pelas bocas em desgraça

o mundo adoece
febre após febre
a pele desbota
a morte é cor da neve

o mundo morre
pulmão por pulmão
sorte dele ser
independente da civilização


Foto: Rui Miguel Pereira

domingo, 11 de abril de 2010

enfeite clandestino




a pergunta não feita
de tão imunda
clandestina enfeita
conversas inteiras
sem beleza alguma


foto: http://p-et-p.blogspot.com/

terça-feira, 30 de março de 2010

um presente sem laço




se soubessem das cores
que nas flores não cabem
teriam dado as mãos
assim como
as fitas fazem


Foto: WEB.

sexta-feira, 19 de março de 2010

enjôo




se a verdade é perversa
então prefira a mentira
sempre sincera e de acordo
com a péssima mania
dos loucos – nós todos-
de girar e girar
até sentir enjôo


foto: Joaquim Nogueira

sábado, 13 de março de 2010

um pouco de tristeza já




Eventuais pequenas tristezas me proporcionam uma serenidade boa. Um sossego em meio ao bombardeio que sofremos por essa mídia do “ser feliz já”. O passado e o futuro são descartados por um presente que não pode deixar de ser sorridente e entusiasmado. Cansa ser feliz o tempo todo, pelo menos na forma pela qual a felicidade é vendida e vestida hoje. É curioso, mas ser triste de vez em quando tem me feito feliz. Um verdadeiro descanso, um alívio.

Foto: Benjamim Vieira.

sexta-feira, 12 de março de 2010

uma burrice




cometo a burrice do espelho
objeto pelo qual
o desprezo é impossível
e o desejo, um ideal


foto: mi.

terça-feira, 9 de março de 2010

espaços distintos




me entrelaço com a luz
de uma estrela que não condiz
com a falta de brilho que conduz
o seu espaço infeliz


Foto: Filipe da Veiga Ventura Alves

ais


mais um soco
(d)o corpo
dá sinais
de novo:
“-ai!”


Foto: Fernando Alves

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Aquiete-se




menina, aquiete-se
não se afobe
a boneca sozinha não anda
nem a piscina foge
o parque abre todos os dias
inclusive na próxima semana
quando você já pode


Foto: Karina Bertoncini

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

ao contrá-rio




a água fria me aquece
a lembrança me esquece
a dança me paralisa

adoraria que fosse
o contrário
mas aí eu nunca seria


Foto: Mário Silveira

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

En-canto do bem




O encanto inofensivo
por enquanto
é o que mantém vivo

o bem

que nem sabe
o quão o mal existe
e faz tristes reféns.


Foto: Um sorriso na multidão - Vitor Cid

uma fita tênue




era laço
agora é nó
não desfaço
não por dó
apenas medo
da minha falta de jeito
tornar o embaraço
ainda maior


Foto: Iva Silva

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

outras quartas de cinzas




a espuma na esquina
faz com que eu suma
com as minhas outras
várias quartas de cinzas


Foto: Bloco Cachorro Cansado 2010.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

pós ventre




só no ventre
eu devia estar salva
dessa ânsia constante
por instantes
em que minha alma
salta exausta
de feliz ser


Foto: Carlos Bartolomeu

sábado, 6 de fevereiro de 2010

"Na paz do seu sorriso"




Em um depósito de muitas coisas inúteis eles acharam um vinil. De tão velho o estado da capa, os arranhões eram presumíveis. Agradável engano no momento em que observaram a bolacha atentos e de perto. Tudo estava perfeito e intacto, assim como um dia saíra da loja. Como será que foi esse dia? Pela data da dedicatória que hoje desvalorizaria se fosse colocado à venda, provavelmente um típico dia de verão. Três de fevereiro de mil e novecentos e setenta e nove. Com muito amor foi dado de Rogério para Beth. Será que “Abandono” tocou logo depois de “Na paz do seu sorriso”? Impossível. Ninguém guardaria algo de forma tão cuidadosa se a vida acontecesse na ordem que sugere o disco. E o estado da capa? Foi culpa de quem? Talvez o tempo. Mas independente do que tenha sido, o fato é que o que está dentro ainda toca. Agora no aparelho de vinil deles.

Foto: reprodução do achado.

domingo, 31 de janeiro de 2010

O existencialismo de um peixe




Não canso em ser feliz. Assim como um peixe não cansa em nadar. Ele não sabe o porquê e pra que, mas está sempre lá, nadando. Às vezes diminui o ritmo, possivelmente por se sentir desmotivado pela "natureza" que se mostra igual. Mas sempre continua. Eu também. Cansaço mesmo só em querer saber os motivos. É instinto e ponto. Há questões onde a sabedoria adquirida em observar um aquário é mais esclarecedora do que toda a filosofia humana.

Obra: Aquário - Cerino

domingo, 24 de janeiro de 2010

Sobre as flores




Se fossem flores
juro que não andaria
sobre...

Esmagar os futuros
frutos, não.

Prefiro o risco
de senti-los podres
na próxima estação.


Foto: Juliana Jacyntho Caldeira Meira

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

sobre o fundo




inverso é o mundo
quando da superfície
se sabe que o fundo
tem sempre raízes


Foto: Jorge Valente

domingo, 17 de janeiro de 2010

Calor




o suor pinga
a cerveja entorna
de tão bem vinda
onde a friagem
chega morna


Foto: Marco Alexandre

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

tombos




Já foi sangue
Já foi pus
Já foi casca

Foi o bastante
para um basta

Agora é pele
com uma pequena marca
ingênua pede:
-Não mais caia!

O tombo pode ser sonso
mas o que o sucede
nunca se disfarça


Foto: Paulo Alexandre Guia

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Após




O ano começa

O escândalo da festa
e dos fogos
já não interessa

Dias que sopro
e que voam pelos meses

Os ignoro sem pressa
preocupada apenas
em matar fome e sede

Até que chega o Natal
meu único lembrete
de que chega mais um final


Foto: WEB.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

dois mil e dez




Purpurina lá no alto,
no asfalto eu:
- Me contamina com esse brilho
que ignora qualquer breu?

...

entre fogos e copos
entra dois mil e dez
na entrada me entorno
banho de champanhe
da cabeça aos pés



Foto: Jose Jorge Calinas Ribeiro