quarta-feira, 29 de abril de 2009

Sobre a tal da expectativa...




A expectativa devia ser abolida. Não conheço nenhuma situação em que ela gere bons resultados. Muito pelo contrário. Aliás, é justamente com o contrário dela que se conhece os melhores momentos, pessoas e sorrisos. Mas infelizmente subtrair a expectativa da vida não é simples. É como estar em um dia quente e além de não querer beber água, também não querer sentir sede. Mais uma incapacidade humana. Uma pena. Realmente, os meus melhores shows, filmes, viagens, discos e até mesmo os meus namorados, foram justamente aqueles em que o primeiro contato foi sem querer ou até mesmo sem vontade. Será que seria diferente se antes eu tivesse expectado? A certeza é impossível, mas meu intuito é pelo sim. E assim, concluo que expectativa de menos é surpresa demais. Expectativa demais é deixar a imaginação antecipar o que está por vir. Quando imaginamos somos livres e na liberdade realmente podemos estar num dia quente e não sentir sede.

Foto: Helena Afonso

segunda-feira, 27 de abril de 2009

uma observação indiferente




a indiferença me aquieta
enquanto observo os enganos
causados pela falsa modéstia
e uma ganância sem tamanho


Obra: Ofelia Marques - Menina na Praia - s/ data, óleo sobre tela.

sábado, 25 de abril de 2009

No guardanapo em um dia frio




O sorvete derrete calmo nessa época do ano.
A sede já não é um percalço, assim como
um chocolate quente não é um engano.

...

É isso mesmo garçom!
Já basta a rua sendo gelada...
Quero queimar a língua de marrom!
Quero suar a testa com a fumaça!
Quero a colher na xícara fazendo som!

...

!“TIN- TON”!
(friozin bon)


Foto: WEB

quinta-feira, 23 de abril de 2009

espe(d)ra




a rima não cai do céu
nem brota da terra

a rima não bate na porta
e nem abre as janelas

ela apenas me ensina
ser quieta como as pedras
na sua espera


Foto: Joel Santos

segunda-feira, 20 de abril de 2009

ar-ame




me ame
mesmo quando te espeto
com meus arames

faça o inverso
em vez de distante, chegue perto
e os arranque!


foto: João Ganhão

quinta-feira, 16 de abril de 2009

No copo d´água




Era água turva.

A espera por limpidez
não foi estúpida.

Ainda que na época
muitos a considerasse absurda,
esperei. esperei. esperei.

E durante a esperança surda
choveu em silêncio.

A água da chuva
muda e coube no copo
com que agora me molho.


Foto: Nuno Sacramento

terça-feira, 14 de abril de 2009

Entre círculos




Sempre dentro dos mesmos círculos
Não entendo, já não há motivos
É estranho e também ridículo
esse medo de quebrar linhas e vínculos
e estar em triângulos e quadrados
Nada além de ângulos e lados
Apenas diferente dos contínuos
símbolos arredondados.


Ilustração: WEB.

sábado, 11 de abril de 2009

"Flolore"




Não por engano
e nem por algum plano
a árvore colore
sempre nessa época do ano.

Notem ou não.
Gostem ou não.
É apenas uma despretensiosa obra
do pintor da estação.


Foto: Marilene Simão de Alcantara

terça-feira, 7 de abril de 2009

Vestidos de silêncio




Não gosto da mudez...
Nela há excesso de saliva
e uma timidez vestida.

Talvez seja uma demasiada sensatez
de almas frias e amedrontadas
com a nudez causada pelas palavras.

Os silêncios são como roupas,
cobrem o que há de melhor
e de denso das pessoas.


Obra: Despir - Técnica: óleo s/ tela - Artista: Aidê Zorek

sábado, 4 de abril de 2009

o hiato do palco




Canso ao assistir a dança dessas de bailarinas que nunca suam. Além do suor, não vejo bolhas e calos. Embora saiba que ali estão. O palco cria um hiato entre o que são e o que aparentam ser. A beleza das sapatilhas é uma armadilha para a qualquer visão. A dor encena para que o belo entre em cena.

Obra: La Camargo - Marie Anne Cupis de Camargo (1710 - 1770)

sexta-feira, 3 de abril de 2009

de-vagar




o som da água que corre

o tom é calmo
e escorre

de
vagar
...


foto: Paulo Ferreira