domingo, 31 de maio de 2009

(en)saio de maio




saio de maio
ao som de sinos
num ensaio
para o destino


Foto: Guilhermino Ramalheira

sábado, 30 de maio de 2009

manhã de sexta ou desejo de sempre




manhã gelada
chocolate quente
a lã agasalha
a preguiça insistente
a cama nem indaga
o porquê de eu estar
tão aderente
a culpa é da chuva
que cai persistente
ela apenas
entende e atende
meu desejo de paz
ou de sossego
tanto faz...


foto: no jardim dos sogros - janeiro de 2009

terça-feira, 26 de maio de 2009

na linha




há uma linha e dois lados
não é minha culpa
a dúvida onde melhor me encaixo

caber em ambos
eu caibo
mas será que com o passar dos anos
eu não me espalho mais e saio?

por enquanto
apenas ando no meio
e estes passos nomeio
de ensaio


Foto: Trilho do Bonde de Santa Photoshopado.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

crenças





a gente crê no que convém
pro bem ou pro mal
pro material ou pro além
no final toda crença é igual
quando faz reféns


Foto: Kalila Pinto

Os poucos que são muitos




Era um rio com um fio de água e devagar. Na verdade um riacho. Não havia nele nenhuma perspectiva de desaguar. Mas no percurso, perdeu-se do curso. Correu por outras terras. Novas fontes e águas. O riacho encorpou-se. Agora, de verdade um rio, prestes a desaguar no mar. Na verdade oceano. O muito é invadido pelo pouco. Na verdade o pouco também é muito. Então até o muito se torna muito, mas muito maior. E assim poucos e muitos vão gerando outros muitos. Muitos...

Obra: Renoir

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Vizinhança




No quarto ao lado
há uma guerra fria.
Não há óvulos e espermas.
Apenas conversas solitárias
e esperas nada sadias.

No quarto em cima
há uma guerra quente.
Não há calma e educação.
Apenas a falta do que se aprende
para bem conviver com os que embaixo estão.


Foto: Lino Martins

sábado, 16 de maio de 2009

do-dói




O corpo dói. A mente também. Com isso os dias doem e eu me nego, a princípio, aos analgésicos. Mas como? No desespero tomo. Remédios, como o próprio nome sugere, apenas remediam. Um grande engano para meu desanimo de igual tamanho. Se fosse um engano menor, não enganaria o suficiente. Tenho a certeza de estar bem e saio. A chuva fina causada pela frente fria é o que encontro. O que me leva logo a reencontrar com a tosse e o cansaço. O casaco não me cobre o bastante. Tento disfarçar a minha mente enquanto volto para casa. E na proteção das paredes e do cobertor concluo que ao me enganar nunca me protejo. Apenas torno-me mais vulnerável.

Ilustração: Anúncio do Bromil - 1937 - Orestes Acquarone

segunda-feira, 11 de maio de 2009

"cortada"




a faca tem ponta

quando passa manteiga no pão

apenas está sendo sonsa


Obra: Achrome, 1958 - Piero Manzoni (1933-1963)

"entusiasco"




asco ao entusiasmo!

nunca é vasto
sempre é gasto
rápido

deixa apenas um rastro
do qual me afasto
ávido


Foto: WEB (autor não identificado)

quarta-feira, 6 de maio de 2009

pelo contorno




o melhor meio não é optar pelo meio
a linha pela qual melhor se caminha é do contorno
estar dentro é in(tenso) e fóbico
não há vento e nem sopro
o soco é um cumprimento dócil
o cheiro bom é do esgoto
...
o centro é sempre duro como caroço


Foto: Helenice Gonçalves Rabelo

domingo, 3 de maio de 2009

Cabeça de alfinete




Qual a utilidade de uma cabeça de alfinete?
Espetar maldades? Segurar incertezas?
Mas deixe que mate a sua vontade frustrada de ser agulha.
Afinal, só está última espeta, mas depois costura.


Foto: Diogo Drio

sexta-feira, 1 de maio de 2009

entre mordidas e assopros




mordo e assopro
sofro e gosto
tolo é esse jogo
que colho de opostos

no esporro eu olho
como eu transformo
com um sopro
o fogo de um fósforo


Foto: WEB