domingo, 29 de novembro de 2009

Faço das palavras dele, as minhas




Achei um vídeo com o Leminski no youtube onde ele coloca em palavras uma das minhas últimas constatações. Na verdade ainda nem havia se tornado uma de tão embrionária que era. Apenas uma idéia solta que vinha toda vez que abria esse blog. As palavras: “A poesia, ela é um fenômeno etário, em determinado momento. Aos 17 anos todo mundo é poeta, junto com as espinhas na cara, todo mundo faz poesia. Homem, mulher, todo mundo tem seu caderninho lá dentro da gaveta e tem seus versinhos que depois ele joga fora ou guarda por mera curiosidade. Ser poeta aos 17 anos é fácil, eu quero ver alguém continuar acreditando em poesia aos 22 anos, aos 25 anos, aos 28 anos, aos 32 anos, aos 35 anos, aos 40 anos (eu estou com 41), aos 45 anos, 50, 60 anos”. Qualquer coisa que eu diga agora é irrelevante. O mestre sabe das coisas. E eu definitivamente não sei o que é rascunhar meu caderninho faz tempo. Espero que seja excesso de trabalho e não a idade. Embora a idade sempre traga mais trabalho. Talvez eu tenha que encontrar outra forma de alimentar a minha poesia. O ócio é um alimento que já não posso mais comprar. Nem mesmo roubar. Extinguiu-se da minha realidade.

Ilustração: Delírios e suspiros

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

cadarços desamarrados




o espaço é escasso
nem dá
para tropeçar no cadarço

então nem o amarre
aguarde até que chão
procrie e escape


Tela: The artists wife, de Egon Schiele

co(m)




nosso contrato
é (com) viver
com trato


Ilustração: WEB.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Alimentada de fome




De tão presente, faz falta. De tão abundante, acaba que se torna escasso. Dessas contradições me alimento. E é por elas morro de fome. Na verdade não reclamo, agradeço. Agradeço sempre. Ainda que meu estomago às vezes doa. Se pudesse ajoelhava. Mas não é possível. A vida pede passos. Peço então desculpas de pé. Já sei que estão aceitas. Agradecida mais uma vez.

Foto: WEB.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Doce de leite




Na minha parede de imã muitas fotos. Algumas de uma bebê branquinha como leite. A infância e adolescência passaram e a falta de cor permaneceu. Minha mãe forçava, mas eu detestava a praia. Preferia a TV. Preferia as guloseimas enquanto assistia TV. Falava mal. Dizia rebelde que ficar assando como frango no forno não tinha sentido. Foram necessários 20 anos para eu comer o prato que tanto cuspi. E com detalhe, com muito gosto. De repente me apaixonei pela praia. Era uma gringa. Agora me entendo como uma carioca legítima. Sábado e domingo de primavera e verão corro para praia. E durante a semana ainda tento encaixar um mergulho entre a faculdade e o trabalho. Na gaveta dos biquínis não param de chegar novidades. A última foi um biquíni de zebrinha. Nunca imaginei que teria gosto em comprar coisas do tipo. Às vezes me questiono o que causou essa mudança que hoje tanto espanta minha mãe. Acho que sempre tive uma paixão platônica pelo sol. Eu o amava, mas as inseguranças infantis e juvenis me faziam crer que ele não sentia o mesmo. Bobeira, graças a deus superada uns quatros verões atrás. E na minha parede de imã já tem fotos de uma moça com uma cor, digamos, de doce de leite. Gosto muito.

Foto: Último sábado - Praia de Camboinhas.

domingo, 8 de novembro de 2009

Cobertor no calor




Enganos e mentiras
são os panos que encobrem
enquanto a verdade brilha
e cega. Se acoberta
mais uma vez...


Foto: Gregoria Correia

terça-feira, 3 de novembro de 2009

desobedoente




desobedeço o médico
abraço os copos
assépticos ao avesso
micróbios que não vejo
então encosto, molho
e beijo
sem modos...

adoeço


Foto: do celula.