quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

O balão




Soprou o balão
que o levaria
para distante.

Quis sair do chão
atrás de uma conquista
que a vista via como grande.

No entanto, lá de cima
tudo é tão pequeno.
Não adianta voar
para continuar por lá.

Sendo parte das nuvens
e tendo o vento
como única bússola
perde-se a própria busca.


Ilustração: WEB

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Sem magia




Os anos deram
um espanto
no encanto.

Já não encanta
então anda
pelos cantos.

Sem graça
a ciranda
da criança.

Só o observar
da dança
já cansa.

Idade trás
maturidade
que trás grades.

Olhos presos
e sem capacidade
de ver brinquedos.

Brincadeiras
viraram besteiras
para desprezo.

Então anoiteço
sem pinheiro
no meu endereço.


Ilustração: WEB

domingo, 23 de dezembro de 2007

Relato do meu vegetarianismo




No dia 6 do próximo mês, completa-se 1 ano de uma das decisões mais importantes e benéficas da minha vida, embora ainda não tivesse consciência clara sobre sua grandeza e suas conseqüências reais. Como a maioria, cresci sendo educada para considerar normal ter um pedaço morto de proteínas de origem animal em meu prato. E como é muito comum nessas educações de caráter cultural, nunca fui estimulada a questionar o porquê de estar reproduzindo o que me foi ensinado. O primeiro contato com esse questionamento acerca da alimentação carnívora versus a vegetariana foi em um livro de “ yoga” do meu avô, escrito por um indiano, onde é afirmado que o ser humano não carece do consumo de carnes, exceto em condições muitos raras, como os esquimós que necessitam de quantidades absurdas de gordura animal para se manterem num frio tão extremado. Outro ponto que me intrigou foi a afirmação por parte do autor do consumo de carne ser uma mera reprodução do que os nossos ancestrais caçadores dos tempos das cavernas faziam, o que era extremamente compreensível, já que naquela época não havia nem agricultura, quanto mais supermercado 24 horas, o que possibilitaria o planejamento alimentar. Então o instinto ordenava o consumo de toda a caça até quando fisicamente fosse possível, pois não se sabia quando seria a próxima. Isto também seria a explicação científica para o pecado da gula.

Muitos anos após, durante um sério regime de reeducação alimentar, conheci a soja. E para meu espanto, ela era uma delicia, ao contrário de sua má fama. Comecei a incluir, na minha alimentação, leite de soja, e, tempos depois, a soja em grãos, como substituto do gorduroso amendoim. No final de 2005, fiz amizade com Renata, uma vegetariana, que, ao contrário de muitos que seguem essa opção alimentar, não faz discursos e nem fica tentando converter seguidores. E como me assusto com radicalismos e pessoas que defendem suas idéias e escolhas como verdades universais, esse seu comportamento discreto me deixou à vontade para o esclarecimento de diversas dúvidas, o que me levou a pensar nessa possibilidade como algo concreto em minha vida. Comecei,então, a questionar o papel da carne em minha alimentação. As perguntas eram: “Até que ponto eu gosto de carne? Até que ponto é um simples hábito?” E foi assim que, em meados de 2006, cortei o que era simplesmente hábito: o frango grelhado da minha avó, que eu já consumia, há pelo menos, 10 anos em praticamente todas as refeições na casa dela. Já não havia menor prazer em consumir aquilo. Era, simplesmente, para ter a tal porção de proteína animal no prato. E essa pequena e primeira decisão foi bem mais agradável do que eu imaginava. No meu prato de almoço, couberam mais cores que não me engordavam, e, de quebra, ainda não ficava com a digestão pesada na parte da tarde. O segundo passo foi o corte nas refeições fora de casa. Ao invés de pastel de carne, um pastel de queijo. Prática que foi adotada facilmente por mim, já que o queijo sempre foi uma das minhas paixões alimentícias, concorrendo com os doces.

A terceira decisão foi um corte “quase total”: eu só consumia carnes em almoços, jantares ou festas comemorativas. Talvez porque não soubesse ainda lidar com o fato de que eu estava me tornando um ser fora dos padrões. Ainda tinha dificuldade, por exemplo, de ir a um jantar na casa de um parente, onde havia sido preparado um estrogonofe só para mim, e dizer que só comeria o arroz, a salada e a farofa. E isso já era final de 2006. No Natal e no Ano Novo, ainda consumi um pouco de carne, mas a lentilha já era uma presença mais forte no meu prato. No dia 5 de janeiro, fui a uma festa de casamento e me lembro da presença da carne do bufê ser praticamente ignorada, só abri algumas poucas exceções. No dia seguinte, dia 6, fui a uma feijoada na casa de um grande amigo. Não resisti. E me arrependi. Para uma pessoa que estava praticamente sem comer carne, o consumo daquelas carnes típicas de uma feijoada foi como uma bomba para meu estômago. No dia seguinte, a decisão estava tomada e anotada na minha agenda. O que considero o último passo foi em fevereiro, onde um vegetariano apareceu em minha vida, e está nela até hoje. Uma das primeiras conversas, logo no primeiro dia, foi exatamente sobre todo esse processo contado acima.

Durante este ano fiz diversas pesquisas sobre o tema, e com elas só confirmei e aumentei a lista de todos os benefícios adquiridos. Antes de ontem assisti a um vídeo onde era abordado o aspecto do sofrimento animal, e hoje fui a um almoço vegetariano. Cheguei a casa com a idéia desse texto, por isso que o fiz. Acho que ainda faltava um registro meu em relação a isso. Não para que os outros leiam, mas para mim mesma. Até porque esta decisão foi pessoal. Não teve caráter ideológico e espiritual. A única informação que pode ser realmente válida para os outros ao lerem esse texto é o questionamento que devemos fazer acerca do que vivemos, ou melhor, acerca de como “nos ensinam” a viver. Nem sempre o correto é o que estamos habituados. Nem sempre o caminho mais fácil é o melhor.

Por fim, dois esclarecimentos. Primeiro: não sou vegetariana. Sou, na verdade, ovolactovegetaria, pois consumo leite e derivados, como também ovos. Segundo: para tranqüilidade da minha família que temia pelo resultado, no meu último exame de sangue, realizado no mês passado, as quantidades de proteínas e de ferro estavam de acordo com as esperadas em uma pessoa saudável.

Foto: O preço da vida - 28-05-2007

Vídeos citados:
Parte 1
Parte 2
Parte 3
Parte 4
Parte 5
Parte 6

Alguns sites:
Sociedade Vegetariana Brasileira
Seja Vegetariano

SIMPLIcidade




A simplicidade
que a cidade
não contém.

Propagandas para propagar
o bem imaginário
de um consumo real.

Ruas asfaltadas para amenizar
a distância não projetada
da concentração espontânea.

Muito cimento e tudo cinza
como o trânsito tenso
que dialoga por buzinas.

Muitas pessoas
e poucos cumprimentos.
Todos a toa e sem sentimento.


Ilustração: WEB

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Os velhos (re) novados




E os velhos
transformam-se
em novos.
E vice-versa.
Disse que os dias
eram monótonos
e sem pressa.
Talvez fosse a fumaça.
Afinal ela embaça
qualquer nova idéia.
Talvez fosse a paixão.
Afinal ela embeleza
até os feios tacos do chão.
Talvez fosse o embrião.
Afinal ele era pequeno demais
pra uma separação.
Talvez fosse a religião.
Afinal ela sempre convence
até quando mente e cai em contradição.
Talvez fosse a insegurança.
Afinal ela faz do adulto
novamente criança.
Talvez esteja nesse último talvez
a explicação
para atual transformação?
Talvez não. Certeza.


Foto: Apenas um exemplo ilustrativo na "Primavera dos Livros" - 02-12-07

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

As pedras e o inseto




As pedras desmoronam
de forma tão singela
que não criam pavor.

Apenas a dor do peso
de um medo quieto
sobre as costas.

E também nelas...

Um inseto que pensa ser
um ser maior. Melhor se
soubesse ser menor.

Assim saberia usar
sua pequenez e suas asas
ao ser soterrado sem dó.


Foto: Uma feira de terça.

domingo, 16 de dezembro de 2007

O mês com menos dias e grades




E se aquele mês fosse
o que não foi.
Mas não sabe e nunca soube
sobre quem ia
e sobre o que ia
acontecer.
Aconteceu que lhe deram uma chave
que abria exatamente o cadeado
daquelas grades invisíveis
ou visíveis na forma
de um abraço.


Foto: 05-06-07

Indissolúvel




Insólito demais
para este momento.
Óbvio que entendo
os motivos, assim como
os perigos.
Mas entender
não resolve e nem
dissolve o bem
dentro de todo mal.


Foto: A menta que não dissolve no mate - Prestige 01-12-07

sábado, 15 de dezembro de 2007

Na ponte




Quase queda
na ponte onde
se encontrava
a passagem completa
entre uma margem
e outra.
Mas não viram a seta,
e pro outro lado
não passaram.
E ainda quiseram
jogar a moça
no lago gelado.
Logo ela que rouca
gritava o caminho exato.


Foto: Museu da República - 02-12-07

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Algum grito




A escassez de idéias
gera mudez
que espera
por alguma voz.

Então este grito
não extenso
com o motivo
do próprio silêncio.


Foto: WEB - autor não encontrado

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

A penúltima ida ao cinema antes das palavras do Doutor Aluízio: “Infecção urinária braba”

A dor nos lombares já estava forte, mas ainda sim consegui assistir e me encantar com este documentário, onde o mundo hippie e gay de São Fransisco entre 69 e 72 é contado, através dos sobreviventes e de ótimos registros fotográficos e cinematográficos dessa época louca, mágica e livre. Então uma recomendação: The Cockettes

Algumas fotos:


Tod@s



Dusty Dawn and Ocean




Hibiscus



Tina and Robert



Koelle


Fotos: http://www.altmanphoto.com/cockettes.html

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Luminosidades



A luz do poste é passiva.
A do sol não. Agressiva
para produzir suor.
E ambas são luzes
e não há nada que as mude.
Essencialmente iguais
e propositalmente diferentes.
Não reside na essência
a diferença. E sim no propósito.
E este é o que se faz
a partir do essencial: ser.


Foto: Museu da República - 02-12-07

sábado, 8 de dezembro de 2007

O rim tá ruim




Dói, enfraquece
e em súplica pede
alguma substância
que aumente
a distância
entre a dor e o corpo.
Mas por enquanto
não tem como.
O bom e o ruim
são partes de um todo.
Existencialmente,
o “sim” necessita do “não”,
assim como a limpeza da sujeira.
Pela existência do oposto
chega-se a essência.
Então a doença vem e mostra
que sua condição oposta
existe e exige
atenção agora.


Foto: WEB

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Sonho com a Vó Dolores




Ela na velha cadeira de balanço
e eu sem o meu velho medo.
Senti dele por tanto tempo
que até esta noite
evitei qualquer contato
na realidade paralela
em que ela está
embora vontade e saudade
não faltasse.
Na rápida conversa
ela me disse estar bem
o que nem era necessário dizer.
Vi em seus olhos azuis
e em um sorriso infantil
tão pouco expressado
enquanto esteve por aqui.
E para essa felicidade
explicou-me ser responsabilidade
de uma temporada no céu.


Foto: Vovó Zilda e a Família Dinossauro

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

I-matéria




Dois...
de tão iguais
tornaram-se estranhos
e cobriram
duas madrugadas
e uma manhã
com um abafado pano
numa tentativa vã
de cobrir também
a imáteria
que vai e vem
ainda que com asfixia e cega
pois está além...


Foto: A i-matéria do céu / 29-04-09 (Primeiras fotos com a pequena no corredor de um edifício no Centro)

domingo, 2 de dezembro de 2007

Fim de tarde no Museu da República (13-11-07)




"Corra e olhe o céu" 1



"Corra e olhe o céu"2



Em cima da mesa



Pombo



Pose do Pato



Poça do Pato



Pés, Pombo e outro Pato


Algum dos sentidos




Sonhos consecutivos
sobre o sentido.
Mas este
em qual definição
do dicionário?

Adjetivo triste?
Sentimento ido?
Alguém magoado?
A interjeição da cautela?
Adjetivo que revela pesar?
Uma orientação de caminho?
Forma de sentir através de um órgão?
A significação ou o bom senso das coisas?
Ou a faculdade e a sensação de receber estas?

Qualquer uma delas!
Ou qualquer outra também!
Bem sem respostas.
Apenas perguntas do consciente
para o inconsciente que recorda.


Figura: Sentido Duplo - Placas de Sinalização

sábado, 1 de dezembro de 2007

Um andarilho pelos trilhos




Um antigo
andarilho
anda hoje
por trilhos
que considera ser
movidos pelo brilho
que não enxerga
pertencer à
energia elétrica.


Foto: Agosto de 2006 - Linha 2

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Quadrados e caixas de papel




Alguns precisam
de quadrados
para estarem dentro.
Enquadrados
é mais fácil ser
mesmo não sendo.

Outros precisam
de caixas
para estarem dentro.
Encaixados
é mais fácil ter
mesmo não tendo.


Foto: WEB

Folhas secas




Galhos cansam
e as folhas caem.
Pesadas tornam-se
mesmo leves sendo.
O peso é a dança
que fazem os ventos.
E no chão secam
com a cor marrom
do tempo.


Foto: Bar do Zé/ Setembro de 2007

domingo, 25 de novembro de 2007

Um dos pretéritos




Um pretérito.
Perfeito ou
imperfeito?
Indigesto
pela ausência
de gestos.
Metros são
a existência
de um apego?
Escolheu ir
para o deserto
cedo.
Lá o céu é aberto
mas o chão
é seco.
Sem poças
não há reflexos
do sol.
Escolha sem nexo
e contando em ter
por perto espelhos.
Espertos são os que vão
para uma floresta
de trevos
de quatro folhas
em segredo.


Foto: Praça José de Alencar / 15-11-07

sábado, 24 de novembro de 2007

Largo do Machado 02-11-07




Por de trás das orquídeas



Por de trás das orquídeas 2



Pôr do sol com charafiz.



Pombos até nas nuvens


sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Corrida




A vida anda
corrida.
Cansa e causa
fadiga.
Falta horas
no dia
para a arte
ócia e vadia
da minha poesia.


Ilustração: O coelho de Alice no País das Maravilhas de um ótimo blogg.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Fresta ou completa




Até a lua
não se oferece
sempre completa.
As vezes é fresta
As vezes é inteira
Mas nem por isso
deixa de ser
verdadeira.
Lua sempre ela é.
E nunca é feia.
Sempre perfeita.


Foto: Lua Nova em 04-04-03

Vultos




Aceleração
do músculo
do coração
ao ver o vulto
do que já fez parte
ironicamente
desse pedaço
de sua carne.

Sente e mente
para a mente
sobre o passado
que passa em frente?

Ou é um estrago
do imaginário
fértil que se desprende
do fato em si?

Independe a resposta.
Pertinentes são as perguntas.
Elas mostram como o nunca
não pertence a lógica
do que era para ser
para sempre.


sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Desimportâncias




Não adianta agora
as chaves que abrem
as portas do amanhã.

A demora do tempo nunca é vã.

Não adianta estradas
ao alcance
se não levam adiante.

A importância sempre é importante.

Não adianta perguntas
com respostas
únicas e óbvias.

A subjetividade é que desabrocha.

Não adianta água
para aqueles
que não sentem sede.

A necessidade de proteção constrói paredes.

Não adianta fuga
para os presos
e para os próprios erros.

Fugitivos se acham no espelho.


Ilustração: WEB

Minha rápida passagem por SP

"E foste um difícil começo
Afasto o que não conheço
E quem vende outro sonho
Feliz de cidade
Aprende depressa
A chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso
Do avesso do avesso..." (Sampa - Caetano Veloso)


Foto de uma foto ( Por Psychofun)



Uma pato fã assistindo ao Pafo Fu!



Cordas e Nós.



Lilly ou a voz de um despejo.



Dos pés às...



cabeças!



Caminho para a Noite de Núpcias.


quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Novas nuances auditivas




Nuances
nunca notadas antes
nas notas óbvias
por isso desinteressantes
para ouvidos grandes
porém ignorantes.


Figura: WEB

Sem cortinas




A instabilidade
invade a rotina
assim como o sol
em um quarto
onde as janelas
não possuem cortinas.
Esqueceu de colocar
pensando ser apenas enfeite?
Aceite a utilidade delas
na proteção de sonhos.


Foto: WEB ( autor não achado)

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Dois verões




A letra é lida
entre tarefas e reflexões
descabidas.

Couberam por conseqüência
de escolhas
e distrações escondidas.

Esconderam e encolheram
os embriões cheios de vida
de seus corações.

Falta de coragem?
Especulações seriam bobagens
após dois verões.


Ilustração: Estudo do arqueólogo boliviano Poznansky há 17 mil anos sobre a relação entre o nascer e por do sol com as estações do ano. O sol, no verão e no inverno nascia diretamente em cima das pedras angulares de um templo em Tiwanaku.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Uma ausência = uma ausente


A ausência faz uma ausente.
A pele tornou-se transparente
enquanto segue as setas
que apontam para si própria.
Caminha em linha reta
e consegue sair de órbita.
Gosta e espera mais voltas.

Foto: WEB