domingo, 23 de dezembro de 2007

Relato do meu vegetarianismo




No dia 6 do próximo mês, completa-se 1 ano de uma das decisões mais importantes e benéficas da minha vida, embora ainda não tivesse consciência clara sobre sua grandeza e suas conseqüências reais. Como a maioria, cresci sendo educada para considerar normal ter um pedaço morto de proteínas de origem animal em meu prato. E como é muito comum nessas educações de caráter cultural, nunca fui estimulada a questionar o porquê de estar reproduzindo o que me foi ensinado. O primeiro contato com esse questionamento acerca da alimentação carnívora versus a vegetariana foi em um livro de “ yoga” do meu avô, escrito por um indiano, onde é afirmado que o ser humano não carece do consumo de carnes, exceto em condições muitos raras, como os esquimós que necessitam de quantidades absurdas de gordura animal para se manterem num frio tão extremado. Outro ponto que me intrigou foi a afirmação por parte do autor do consumo de carne ser uma mera reprodução do que os nossos ancestrais caçadores dos tempos das cavernas faziam, o que era extremamente compreensível, já que naquela época não havia nem agricultura, quanto mais supermercado 24 horas, o que possibilitaria o planejamento alimentar. Então o instinto ordenava o consumo de toda a caça até quando fisicamente fosse possível, pois não se sabia quando seria a próxima. Isto também seria a explicação científica para o pecado da gula.

Muitos anos após, durante um sério regime de reeducação alimentar, conheci a soja. E para meu espanto, ela era uma delicia, ao contrário de sua má fama. Comecei a incluir, na minha alimentação, leite de soja, e, tempos depois, a soja em grãos, como substituto do gorduroso amendoim. No final de 2005, fiz amizade com Renata, uma vegetariana, que, ao contrário de muitos que seguem essa opção alimentar, não faz discursos e nem fica tentando converter seguidores. E como me assusto com radicalismos e pessoas que defendem suas idéias e escolhas como verdades universais, esse seu comportamento discreto me deixou à vontade para o esclarecimento de diversas dúvidas, o que me levou a pensar nessa possibilidade como algo concreto em minha vida. Comecei,então, a questionar o papel da carne em minha alimentação. As perguntas eram: “Até que ponto eu gosto de carne? Até que ponto é um simples hábito?” E foi assim que, em meados de 2006, cortei o que era simplesmente hábito: o frango grelhado da minha avó, que eu já consumia, há pelo menos, 10 anos em praticamente todas as refeições na casa dela. Já não havia menor prazer em consumir aquilo. Era, simplesmente, para ter a tal porção de proteína animal no prato. E essa pequena e primeira decisão foi bem mais agradável do que eu imaginava. No meu prato de almoço, couberam mais cores que não me engordavam, e, de quebra, ainda não ficava com a digestão pesada na parte da tarde. O segundo passo foi o corte nas refeições fora de casa. Ao invés de pastel de carne, um pastel de queijo. Prática que foi adotada facilmente por mim, já que o queijo sempre foi uma das minhas paixões alimentícias, concorrendo com os doces.

A terceira decisão foi um corte “quase total”: eu só consumia carnes em almoços, jantares ou festas comemorativas. Talvez porque não soubesse ainda lidar com o fato de que eu estava me tornando um ser fora dos padrões. Ainda tinha dificuldade, por exemplo, de ir a um jantar na casa de um parente, onde havia sido preparado um estrogonofe só para mim, e dizer que só comeria o arroz, a salada e a farofa. E isso já era final de 2006. No Natal e no Ano Novo, ainda consumi um pouco de carne, mas a lentilha já era uma presença mais forte no meu prato. No dia 5 de janeiro, fui a uma festa de casamento e me lembro da presença da carne do bufê ser praticamente ignorada, só abri algumas poucas exceções. No dia seguinte, dia 6, fui a uma feijoada na casa de um grande amigo. Não resisti. E me arrependi. Para uma pessoa que estava praticamente sem comer carne, o consumo daquelas carnes típicas de uma feijoada foi como uma bomba para meu estômago. No dia seguinte, a decisão estava tomada e anotada na minha agenda. O que considero o último passo foi em fevereiro, onde um vegetariano apareceu em minha vida, e está nela até hoje. Uma das primeiras conversas, logo no primeiro dia, foi exatamente sobre todo esse processo contado acima.

Durante este ano fiz diversas pesquisas sobre o tema, e com elas só confirmei e aumentei a lista de todos os benefícios adquiridos. Antes de ontem assisti a um vídeo onde era abordado o aspecto do sofrimento animal, e hoje fui a um almoço vegetariano. Cheguei a casa com a idéia desse texto, por isso que o fiz. Acho que ainda faltava um registro meu em relação a isso. Não para que os outros leiam, mas para mim mesma. Até porque esta decisão foi pessoal. Não teve caráter ideológico e espiritual. A única informação que pode ser realmente válida para os outros ao lerem esse texto é o questionamento que devemos fazer acerca do que vivemos, ou melhor, acerca de como “nos ensinam” a viver. Nem sempre o correto é o que estamos habituados. Nem sempre o caminho mais fácil é o melhor.

Por fim, dois esclarecimentos. Primeiro: não sou vegetariana. Sou, na verdade, ovolactovegetaria, pois consumo leite e derivados, como também ovos. Segundo: para tranqüilidade da minha família que temia pelo resultado, no meu último exame de sangue, realizado no mês passado, as quantidades de proteínas e de ferro estavam de acordo com as esperadas em uma pessoa saudável.

Foto: O preço da vida - 28-05-2007

Vídeos citados:
Parte 1
Parte 2
Parte 3
Parte 4
Parte 5
Parte 6

Alguns sites:
Sociedade Vegetariana Brasileira
Seja Vegetariano

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