segunda-feira, 30 de março de 2009

astros




astros flutuam no vago
infinito sem sentido
onde os passos são ínfimos
e o tempo não é caro

raros são os dignos
de deixarem algum rastro
finito mas vasto
no íntimo

quinta-feira, 26 de março de 2009

o não pensar




helicópteros no silêncio
fósforos acesos no escuro
copos cheios, mas de furos

desse jeito ilustro o quanto...

enquanto não penso
penso
o quão ainda
estou pensando

foto: Ricardo Carvalho

terça-feira, 24 de março de 2009

calma, unhas e esmalte




rôo unhas e esmalte
para que a calma
não me falte

no final dou falta
dos três
de uma vez


Foto: Joana Afonso

Um fio entre nós




Silencio e teço um fio entre nós. As palavras tornaram-se facas. Corte e sangue é o que vejo. Dor é o que sinto. Mas eu finjo muito bem, ainda sorrio como ninguém.

...

desato os nós
em um ato
cheio de dó
de mim


Foto: WEB photoshopada.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Pelo chão de barro




O outono e a noite chegam. As folhas querem desprender-se, enquanto quero enraizar-me. A rua já não me seduz, assim como a luz artificial dos postes não ilumina o necessário. Não quero ser uma sombra que caminha por percursos já existentes. Quero caminho próprio. Ainda que eu demore em ter asfalto, já serei feliz em ir pela minha torta e imaginária trajetória em um chão de barro.

Foto: Paraty - Dezembro de 2007.

segunda-feira, 16 de março de 2009

des-calço




Não desato o nó
e nem desfaço do calçado.

Troco os cadarços por um salto?

Mas eu não quero altura
e meus dedos querem espaço.

O melhor então é ser descalço.

Assim o resfriado já tem culpa:
o chão onde coloco meus passos.


Foto: WEB

Excesso de faltas




A casa que nada me diz. A porta não fala. As janelas não me olham. Não vejo nada através. Nem mesmo nas cores que não combinam. O marrom do tijolo e o cinza de um emboço sem tinta. A minha falta do que dizer diante do excesso de faltas.

Foto: Celio Costa

quarta-feira, 11 de março de 2009

Quietude




Aquieto-me na sombra
de um jardim ventilado.
O sol já não afronta
mas também não faz o contrário.

Na verdade ele deita seus raios
em uma flor laranja
que esbanja charme
bem do meu lado.


Foto: Não lembro a data.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Morta de amores




Pimenta
seria a menta salgada?

Menta
seria a pimenta doce?

Ardências opostas
que faz com que minha língua morra,
mas de amores.


Foto: WEB.

domingo, 8 de março de 2009

únicas




há glamour
na espuma
e na pluma

na banheira
ou na penteadeira
a mulher é sempre uma

única


Obra: Mulher nova ao espelho - Giovanni Bellini

quarta-feira, 4 de março de 2009

des-fruta




A fruta podre
ainda se acha doce.
Mas como?
Já não disputa de olhares,
escolhas e mordidas.
Não foi para os lares
e está perdida entre tantas,
também apodrecidas.
Dividem cheiro e manchas
enquanto avança
a decomposição da vida...


Foto: WEB.

domingo, 1 de março de 2009

Março chega para o verão ir




Março chega. No fim dele o verão se vai. Já percebo os raios solares mais amenos. Entristeço, mas só quando não lembro dos trajetos diários envolvendo casa, trabalho e faculdade. Sou obrigada admitir que a estação em questão não foi feita para o cotidiano comum, onde exercemos todas as atividades que não se enquadram na categoria férias. Avistar um termômetro de rua marcando quarenta graus sentindo cheiro de sundown pelo corpo só combinam quando estou de biquíni e bicicleta indo ou vindo da praia. São três meses que aproveito a existência de mar, areia e ciclovias pela cidade, mas confesso que deles me esqueço nos nove meses restantes. Amnésia necessária para o cumprimento da rotina que dissolve minha “morenisse” adquirida. Hoje na praia, pensando dessa minha relação com o verão, rascunhei a seguinte frase: sou uma branquela que gosta de sol. Gosto mesmo. Nesse (quase) fim de estação sou uma morena feliz e de cabelos um pouco mais claros.

Foto: Arpoador - Março de 2008.