Gostaria de resgatar aquela carta. Aquela, onde molhei as letras em tinta (não me recordo a cor) com as minhas piores lágrimas. Gostaria de analisar a grafia e ter certeza de todos os meus erros de português, principalmente os de pontuação. Era terrível a minha relação com as vírgulas e os pontos finais. Também gostaria de ter certeza de uma suposição adquirida com as vagas lembranças do que escrevi, a de que mesmo sendo transparentes, as lágrimas cegam, ou no mínimo embaçam qualquer boa visão de perto. Mas ao reler o que acabo de escrever, surpreendo-me com essa enorme necessidade de certezas, já que hoje possuo a maior delas, a de que todos os motivos que me levaram a escrever a tal carta e até a própria, foi o maior e mais necessário mal. Tanto para o destinatário, quanto para o remetente. A maneira como o mal foi entregue é que foi desnecessária. Talvez more neste ponto a necessidade das tais certezas, talvez as enxergando de forma nítida, não como uma mera lembrança embaçada por úmidas tristezas, a probabilidade de acertos e menos erros seja maior numa próxima carta. Talvez esta não seja nem necessária. Tomara.
Obra: "A carta" de Pierre Bonnard.
Nenhum comentário:
Postar um comentário