Sábado não foi um dia qualquer. Até seria, caso não tivesse tomado a decisão de ir ao cinema. O incrível diante dos meus olhos. Para eles sobraram lágrimas. Para meu semblante, um sorriso. Sempre fui apreciadora das palavras, principalmente quando estão a serviço da poesia. Por isso Manoel de Barros nunca me foi distante, mas também não tão perto quanto gostaria. Descobri o porquê. Uma timidez traduzida por muitos como aversão às entrevistas, câmeras e sucesso (como geralmente é concebido). Uma postura incomum, mas ser comum seria impossível para um ser que transvê o mundo como ele. Segundo o próprio: “O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê.” Assistir a um documentário sobre poesia onde as rimas e as estruturas parecem inexistir, enquanto que a beleza existe na mesma proporção, ou até de forma absoluta, é entrar em contato no que há de mais moderno no que é feito dentro do gênero hoje. O impressionante é essa modernidade toda ser feita por um sujeito que possui noventa e quatro anos e que basicamente trata das “insignificâncias” da natureza. Admiração e orgulho é tudo o que possuo por esse ser. Encerro aqui. Uma enorme timidez me abate ao tentar escrever algo sobre alguém que diz que “Quem anda no trilho é trem de ferro, sou água que corre entre pedras: liberdade caça jeito.”
Ilustração: Karmo.