quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Castelos de areia


Fabulosas gotas
na aridez feita
de areia
solta, bege e fosca.

Agora úmida
tornou-se perfeita e boa
para tornar-se castelos
singelos, infantis e belos.


Foto: WEB

Ausência do vermelho


O vermelho faz falta na pintura.
E esta ausência causa medo
mesmo podendo ser tudo
fruto de uma loucura,
que só eu vejo.

Talvez inexista tal cor na mente do pintor.
Talvez exista, mas não haja tinta.
Talvez haja, mas se com ela pintasse, ficasse desarmônico.
Ou talvez seja apenas,
olhos daltônicos.


Pintura: Pistilo

domingo, 26 de agosto de 2007

Poesia aleatória - versão 2


Aleatória devido
a um nascimento sem sentido.
Nasceu numa hora qualquer
sem tema
apenas com esse título.
Invadiu uma folha.
Não poupou a tinta
que pintou rimas soltas
para alimentar um vício.


Foto: 17-12-06 (Lendo Milan)

Quase um ser aéreo


De noite sempre os mesmos
rostos, riscos e restos.
Isqueiros por perto
significam fogo,
mas dele não quero.
Prefiro outro modo de luz,
através de método próprio.
Clareio com o que
minha imaginação produz.
Transformo o feio em belo,
o triste em alegre,
e o escasso em próspero.
E desse mesmo jeito levo
a vida. Sempre leve.
Quase um ser aéreo.


Foto: Um ser aéreo na Lagoa - 16-07-07

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

O peso do nada e o tudo com asas


Pessoas leves voam.
Enquanto que as pesadas
são arrastadas para o centro
porque carregam dentro
o peso de não ter nada.
O tudo possui asas.


*No nulo tudo pesa.

Figura: Alcir Costa - retirado do livro "Arte para Criança"

Desperdícios


Os olhos da maldade,
os narizes aspirantes de ócio,
e as bocas que cospem ignorância.

Mãos covardes que furtam
boas intenções,
e com isso os pés fogem
de um destino nobre.

Pobres em todos os sentidos.
Imediatismo é o que os movem
para dias em desperdício.

Desperdiçam em vícios
que cobram e cobrem
com perigos e riscos
vidas.

Figura: WEB

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Pedaços mudos


Lapsos do que era
mesmo após
o desatar dos laços.
Regressa por nós
sermos o acúmulo
de pedaços deixados
mudos
e para trás.
Mas sobretudo
nossos.
E é por isso
um grito agudo
no silêncio óbvio
que se faz
depois do sentido
ser absurdo
e alguém incapaz.


Foto: 23-07-07

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Febre


Algo quer sair
pelo suor
que o falso frio produz
sem dó
no corpo de castigo
que foge da luz
e procura um abrigo
no delírio
que o conduz
por um labirinto
com loucuras
cheias de vínculos
com a realidade
nula de instintos.


Figura: WEB

domingo, 19 de agosto de 2007

Opinião sobre o chão


Pouco importa?
Não. Nem muito e nem pouco.
Não importa.
Opinão que indifere
nos pés de quem segue
sem olhar o que pisa.
O chão é concreto
e não faz diferença
do que ele é feito,
se é de cimento ou azulejo.
Importante é que eu o sinta.

Foto: 16-07-07

terça-feira, 14 de agosto de 2007

A nova pele


A fuga das ciganas
era o desejo pela distância
da mudança
que ainda não era
bem-vinda.
Elas sabiam que aquela
teria que morrer
por uma outra. Esta.
A morte não entendida
era apenas um corte
para a nova pele.
Troca atrasada pelo medo
transformada em pesadelo
que não mais serve.


Figura: Arcano XVII - Estrela/ Estella

domingo, 12 de agosto de 2007

Apetite da alma


Não quero o sal que salga.
Nem o açúcar que adoça.
Não é do óbvio
que minha alma se alimenta.
Não é uma alegria qualquer
que a contenta.
E nem é a beleza comum
que a encanta.
Ela experimenta a surpresa
até quando esta espanta.
Prova o que inova.
Nada que seja gélido e cético.
Tudo que seja e cause o inédito.


Foto: 05-05-07

A sala das cadeiras de palha


A sala que não mais quero estar
tem cadeiras de palha.
Sentadas nelas
pessoas se satisfazendo
com as migalhas de um pão
feitos pelas mãos da ilusão.
Só hoje a minha visão as enxerga.
Palmas tão falsas.
Unhas tão imundas.
Então digo "não" de forma sincera
ao ir embora depressa.

Figura: WEB

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Flores azuis


Quando avista
flores azuis
percebe o quanto
artista é
Deus.

Quando avisto
flores azuis
percebo o quanto
artístico é
tudo.


Foto: Duas flores na Marquês.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Um mundo com apenas duas estações


Juntos criaram um mundo
com apenas as suas
duas estações.
Ele e seus verões.
(Dias enfumaçados por distrações)
Ela e seus invernos.
(Dias cinzas pelo tédio)
E como não havia
outono e primavera
ficaram os dois à espera
pra sempre
de vento e de flores.
Afinal, não se via da janela deles
a beleza óbvia das cores
e também a tristeza bela
que só as folhas secas possuem.


Foto: Bar do Zé/ tarde de 01-07-07

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Idéias embaralhadas


Talvez eu atrapalhe.
Apenas embaralhe
as cartas desse jogo
com regras disfarçadas.
A minha idéia fecha
o que uma outra abre.
Ou vice-versa?
É doce
fazer paz na guerra.
Como é amargo
o contrário.
Mas o que interessa
é o que fica:
um estrago.


Foto: War.

Extenso silêncio


Meu silêncio
nunca foi
tão extenso.

Só penso.

Converso com
o que está dentro.

Papos intensos.

E é por esses versos
que tento
coloca-los para fora.

Demora.

O processo
está lento.

Espero.

Então me contento
fazendo estes
agora.

Figura: Web

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Um quadro em branco


Pincéis,
potes de tinta
e um quadro
em branco.

No entanto
não sei o que faço.
As mãos estão imóveis
e a imaginação com cansaço.

Disfarço nos papéis
com rascunhos à lápis.
Mas no fundo são fiéis
a tudo já criado.


Figura: Pintor a la Luna. 1917 - Marc Chagal