É sempre igual. Passa o anúncio do Big Brother Brasil e minha vó aperta o botão do controle. Radical como sempre, ela se recusa até em ver as chamadas. E completa com a frase: “Isso é um retrocesso, no meu tempo saber da vida dos outros era falta de educação.”
Mal sabe ela que essa modalidade de falta de educação não está só na Tv. Está em todo lugar. São os novos tempos. Hoje em dia a curiosidade habitual do ser humano é vorazmente incentivada a tornar-se uma patologia vista com naturalidade.
A internet tornou-se um caso a parte na feitura dos curiosos de plantão. De certa forma fico aliviada dela não freqüentar o mundo virtual, afinal para ela não seria nada natural saber tudo o que os amigos dela fizeram, fazem ou vão fazer. E o contrário também. Porém como neta, admito ver com muita tranquilidade tais informações.
Porém outro dia, me peguei descobrindo algo bem íntimo de uma pessoa distante. Essa distância não é física. Tal pessoa mora relativamente perto, fez parte da minha vida durante um período curto, mas de fato não somos amigas e não nos vemos há meses. Apenas somos adicionadas num desses sites de relacionamento. Fui comentar com meu namorado a descoberta e ele prontamente disse: “O que a gente tem a ver com isso? Na verdade a gente nem devia estar sabendo disso.” É verdade, nem era para sabermos. Se não fosse a internet, talvez passaríamos a vida sem saber. Ou não. Mas mesmo que um dia soubéssemos, creio que seria de uma forma natural. Mas o que é natural hoje em dia? Enfim, fiquei intrigada de como a exposição é encarada com naturalidade atualmente. Eu, que não encontro com uma pessoa há anos, posso saber de uma informação que teoricamente apenas amigos íntimos e familiares teriam acesso. Claro, se a pessoa posta uma informação é porque ela quer que os outros saibam. Porém, no mundo virtual é tudo tão virtual que eu mesmo perco a noção desse saber às vezes. Muitas vezes coloco uma foto para um grupo de pessoas baixarem e nem me dou conta que todo o resto também pode acessar.
Me assustei. Fui ver as minhas fotos. Nossa, quantas eu não queria que todos tivessem acesso. Comecei então a compartilhar certos álbuns apenas para certas pessoas. Foram necessários apenas dez minutos para desistir. São muitas fotos e muitas pessoas. Impossível. Foi daí que me dei conta de como perdi controle da coisa. Tive a sensação de que nem sempre uso internet, é ela que me usa. Estou perdida entre tantas informações e fotos. Minhas e dos outros. No final das contas, somos geradores e consumidores de informações alheias. Alheias mesmo, no sentido amplo da palavra.
Minha vó é que está certa, saber da vida dos outros NÃO é NORMAL. Nem mesmo de um grande irmão.
Ilustração: WEB.
Um comentário:
ótimo!
não consigo parar de ler seu bolg.
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