terça-feira, 29 de setembro de 2009

a timidez do céu





a nuvem branca
disfarça o azul límpido
que encanta
mas é tímido
quando há cobrança
de um dia lindo



Obra: Van Gogh.

sábado, 26 de setembro de 2009

(re)caída




movimento os lábios
formo um sorriso
lamento pois caio
em um buraco
com placa de aviso


Foto: Nuno Inácio

estiagem




uma tristeza úmida
incomoda
e ninguém vê

a certeza única
é da seca acerca
do quem conviver

Foto: Joana Antunes

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

cansaço




confesso o cansaço
em nunca fazer descaso
com quem sempre está indisponível

indisposta é a desculpa que sobra
numa forma formosa
o que me torna ainda mais risível


Ilustração: Paraíso Nilista

domingo, 20 de setembro de 2009

Minha vó e o Big Brother





É sempre igual. Passa o anúncio do Big Brother Brasil e minha vó aperta o botão do controle. Radical como sempre, ela se recusa até em ver as chamadas. E completa com a frase: “Isso é um retrocesso, no meu tempo saber da vida dos outros era falta de educação.”
Mal sabe ela que essa modalidade de falta de educação não está só na Tv. Está em todo lugar. São os novos tempos. Hoje em dia a curiosidade habitual do ser humano é vorazmente incentivada a tornar-se uma patologia vista com naturalidade.
A internet tornou-se um caso a parte na feitura dos curiosos de plantão. De certa forma fico aliviada dela não freqüentar o mundo virtual, afinal para ela não seria nada natural saber tudo o que os amigos dela fizeram, fazem ou vão fazer. E o contrário também. Porém como neta, admito ver com muita tranquilidade tais informações.
Porém outro dia, me peguei descobrindo algo bem íntimo de uma pessoa distante. Essa distância não é física. Tal pessoa mora relativamente perto, fez parte da minha vida durante um período curto, mas de fato não somos amigas e não nos vemos há meses. Apenas somos adicionadas num desses sites de relacionamento. Fui comentar com meu namorado a descoberta e ele prontamente disse: “O que a gente tem a ver com isso? Na verdade a gente nem devia estar sabendo disso.” É verdade, nem era para sabermos. Se não fosse a internet, talvez passaríamos a vida sem saber. Ou não. Mas mesmo que um dia soubéssemos, creio que seria de uma forma natural. Mas o que é natural hoje em dia? Enfim, fiquei intrigada de como a exposição é encarada com naturalidade atualmente. Eu, que não encontro com uma pessoa há anos, posso saber de uma informação que teoricamente apenas amigos íntimos e familiares teriam acesso. Claro, se a pessoa posta uma informação é porque ela quer que os outros saibam. Porém, no mundo virtual é tudo tão virtual que eu mesmo perco a noção desse saber às vezes. Muitas vezes coloco uma foto para um grupo de pessoas baixarem e nem me dou conta que todo o resto também pode acessar.
Me assustei. Fui ver as minhas fotos. Nossa, quantas eu não queria que todos tivessem acesso. Comecei então a compartilhar certos álbuns apenas para certas pessoas. Foram necessários apenas dez minutos para desistir. São muitas fotos e muitas pessoas. Impossível. Foi daí que me dei conta de como perdi controle da coisa. Tive a sensação de que nem sempre uso internet, é ela que me usa. Estou perdida entre tantas informações e fotos. Minhas e dos outros. No final das contas, somos geradores e consumidores de informações alheias. Alheias mesmo, no sentido amplo da palavra.
Minha vó é que está certa, saber da vida dos outros NÃO é NORMAL. Nem mesmo de um grande irmão.

Ilustração: WEB.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

brilhe (ponto de exclamação)




não ofusque meu brilho
busque o seu
ainda que no princípio
pouco ilumine
é melhor do que ser breu


foto: web.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

sebo




os livros de um sebo
foram deixados
trocados
achados
doados

por um motivo
que nunca se sabe
mas é indiferente
para quem
novamente os abre


Foto: Um livro meu, que inclusive está emprestado.

a feitura de sonsos




de tão boa, enjoa
e os enjôos não são poucos
vômitos e mais vômitos
mas depois joga água e ensaboa
na cara e nas mãos
e esfrega pasta
na boca

é assim que a espuma faz muitos sonsos
com a ajuda de sabão e escova


Foto: Joana

ên-fase




ênfase no pior
que não pede licença
e nem sente dó
de mim
e dos que estão
ao meu redor


Foto: Marco Souza

sábado, 5 de setembro de 2009

uma questão de matemática




Na foto um sorriso. Um mesmo. Não haveria de ter mais? Essa questão do menos e do mais sempre intriga. A mim e a todos. Os sinais que não acordam. Em tese subtração e adição se opõem, porém se completam. Um grito de socorro para a matemática! É de falta de lógica que padeço todos os dias.

Ilustração: WEB.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

dê-per-dão




Perdão. A palavra que faz toda diferença. O que diferencia os bons dos que assim não são. Não digo pessoas más porque é diferente não ser bom e ser mal. Pra quem perdoa a maldade não existe em seu sentido absoluto. A existência dela apenas se dá no sentido circunstancial e relativo. Logo, não perdoar é estar preso em circunstâncias e pequenas relatividades diante da grandiosidade da vida. Perdoar é ser livre. É clichê, mas é fato. A liberdade é difícil, mas não impossível. E com certeza bem mais feliz. Por isso dê-per-dão.

Foto: Daniel Pereira