sábado, 31 de maio de 2008

Interminável canção




Canção interminável
com notas
repetidas e incansáveis
na busca de uma nova
melodia não escutável
mas sentida nos adoráveis
devaneios sempre cheios
de fantasias ignoráveis
pelo alheio
mas amáveis por nós
e por inteiro.


Ilustração: WEB

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Calça xadrez




A calça xadrez foi esquecida,
assim como a inocência
desagradável
para o mundo que insistia
pela sua presença
até perdoável.

E nele você foi parar
com todas as suas mentiras.
De tão pequenas
antes eram até ingênuas,
eu diria.

Mas a ingenuidade
não mente por muito tempo,
e sua nova verdade
ficou sendo evidente
para meus olhos
que um dia enxergaram o vento.


Ilustração: WEB

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Reflexões sobre um machucado




Não me acostumo com os tropeços noturnos
Serão eles causados pela falta de luz
ou pela distração que me impus?
Sumo caída na escuridão
gotejando minúsculas partes
do que meu corpo produz.
Produção perceptível apenas
através de ferida ou de injeção
que um dia por medo me opus.
Oposição idiota, já que é a um cuidado,
o mesmo que faltou no dia
em que me distraí, caí e ganhei um machucado.


Ilustração: WEB

terça-feira, 27 de maio de 2008

Uma anotação do caderninho de bolinhas




Para altos e baixos:
saltos e chinelos.


Foto: Começo do mês - assistindo cover dos Rolling Stones.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

O herói e o covarde (uma dupla)




Engasga e rasga
a garganta. Um silêncio
extenso. Sangra
e não estanca. Arde
sem alarde. Dói e
corrói. Um covarde
destrói com covardias
vadias. Enquanto o herói
constrói arte e partes
de vidas perdidas.


Ilustração: Urutu - Tarsila do Amaral

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Demo-lição




Entre os culpados e a culpa,
no máximo acho
desculpas que abafam
o incomodo de uma roupa suja
nunca lavada em casa
por excesso de cômodos
separados por estúpidas
paredes que desabam.


Foto: Demolição da Catedral de Cuiabá.

sábado, 17 de maio de 2008

Pétalas




Sinceras são as pétalas
em sua beleza.
Belas apenas por serem
nada além do que são...
flores!


Foto: Voltando pra casa - 16-05-2008

Pazes




Uma angústia suja
minha calma limpa
cuja a única intenção
era ser única em minha
dimensão infinita onde
não cabe sensações opostas pares
e sim uma autêntica e ímpar
faminta por uma paz
provada no singular
no plural não ainda.


Ilustração: El Dolor, óleo - Oswaldo Guayasamín.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Uma poça ou um espelho




Piso com força
na poça
que me reflete.

São apenas alguns litros
de água parada
que não me mede.

Respingos que limpo
e dessa forma finjo
que não me conhecem.


Foto: Rua Pedro Américo para Jornal "Visão Local".

quinta-feira, 8 de maio de 2008

A terna simplicidade de um chinelo




Não gosto de terno.
Gosto da ternura simples
que não finge
de um chinelo.

O que há sobre a pele
não interessa. Levo e
recomendo que leve
o que não pesa.


Ilustração: Aline Pottier

Tropeço na raiva




Não caia
com um tropeço
em sua raiva.

Ainda é cedo, mas
espere que ela saia
em segredo.

Aprenda com o erro
de sentir medo
na hora errada.

Além da imagem,
ache a coragem
no espelho.


Foto: Internet. Autor não identificado.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Dança X Coreografia




A desconfiança é uma dança
sem passos coerentes
em um salão repleto
de incertos descontentes.

A confiança é uma coreografia
sem passos diferentes
em um salão repleto
de autênticos ausentes.


Foto: Autor não identificado.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Uma fobia




O ódio é fóbico.
Tranca sem tranca.

Anda sem modos
por dentro deste
indócil ser.

A pele é como paredes
sem janela e porta.

Um chão apenas
para que deitado jogue fora
a água em forma de lágrimas.

Desidratado de tristeza
e com sede de ir embora.


Ilustração: Marcos S. Sousa

Água e areia




Descontrole. Perda da pose.
Antes inteira.
Agora despedaçada.
Antes calada.
Agora sem meias
palavras cheias
de mágoa como
água em contato
com areia.
Inundada por besteiras.
Próprias ou alheias?


Foto: Jose Francisco Mineiro

Um brando desmaio




Espinhos de diamante
seduzem e cortam.

Enquanto a beleza é distante,
a dor é na pele que cobre.

O encanto é pelo belo.
O espanto é pelo sangue
após o corte.

Um banco de suporte.
Lábios brancos garantem
ser uma quase morte.

Um brando desmaio, por sorte.


Ilustração: WEB.