Canção interminável com notas repetidas e incansáveis na busca de uma nova melodia não escutável mas sentida nos adoráveis devaneios sempre cheios de fantasias ignoráveis pelo alheio mas amáveis por nós e por inteiro.
Não me acostumo com os tropeços noturnos Serão eles causados pela falta de luz ou pela distração que me impus? Sumo caída na escuridão gotejando minúsculas partes do que meu corpo produz. Produção perceptível apenas através de ferida ou de injeção que um dia por medo me opus. Oposição idiota, já que é a um cuidado, o mesmo que faltou no dia em que me distraí, caí e ganhei um machucado.
Engasga e rasga a garganta. Um silêncio extenso. Sangra e não estanca. Arde sem alarde. Dói e corrói. Um covarde destrói com covardias vadias. Enquanto o herói constrói arte e partes de vidas perdidas.
Entre os culpados e a culpa, no máximo acho desculpas que abafam o incomodo de uma roupa suja nunca lavada em casa por excesso de cômodos separados por estúpidas paredes que desabam.
Uma angústia suja minha calma limpa cuja a única intenção era ser única em minha dimensão infinita onde não cabe sensações opostas pares e sim uma autêntica e ímpar faminta por uma paz provada no singular no plural não ainda.
Descontrole. Perda da pose. Antes inteira. Agora despedaçada. Antes calada. Agora sem meias palavras cheias de mágoa como água em contato com areia. Inundada por besteiras. Próprias ou alheias?
"Que estou fazendo a te escrever? estou tentando fotografar o perfume."
"Escrevo-te este fac-símile de livro, o livro de quem não sabe escrever; mas é que no domínio mais leve da fala quase não sei falar. Sobretudo falar-te por escrito, eu que me habituei a que fosses a audiência, embora distraída, de minha voz." (Água Viva - Clarice Lispecor)