quarta-feira, 31 de outubro de 2007

A mudança é muda




Mudo de um jeito mudo.
Já não preciso
que escutem
minha voz.
Seriam apenas barulhos
para ouvidos
que só escutam
e não fazem nada
de melhor após.


Figura: Petrópolis - agosto de 2006

sábado, 27 de outubro de 2007

Interior de lembranças




Movimento rápido nos olhos
que nada vêem além
de um horizonte cinza de prédios
velhos do centro da cidade.

Distância de quilômetros
do que era a felicidade de ver
o lento passar dos dias sem ânsia
do interior de suas lembranças.

Saudades do capim sem fim
no vasto pasto e dos passeios
na praça única nos fins de uma
semana suja de barro e lama.

Sujeira mais limpa essa
por não ser humana e sim da terra
com a fragrância que não se engana
em exalar deus de forma singela.


Foto: Pedralva - fevereiro de 2007.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Internas linhas tortuosas




O nojo que não sinto
das entranhas estranhas
que até lindo acho.

Gosto que guardo
embora não guardem.

Soco que não dou
embora dêem.

Pouco para o que podia
ser muito.
Solto para o que podia
ser mais
preso.

Ainda me movo com o medo dos mortais.
Porém tenho sina de não pertencer aos iguais.

Diante do que brilha demais é fosco.
Brilho é desnecessário e não ilumina,
apenas enfeita e ensina
o quanto inferior é
diante da luz que está
todo dia por cima
dos acontecimentos universais.
Sendo eles eventuais ou fatais.

Entendimento
para esses pensamentos
dispenso.
Para mim dispensar é transformar.
Então transformo
minhas linhas tortuosas internas
em linhas externas retas.
Transforma-se. Formas novas. Forma-se.


Arte: Painting with white border - Kandinsky

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Míssil




A possível desestrutura
assusta porque aponta
para um míssil
que pode vir
a qualquer momento
de um avião que ronda
minha cabeça.
E não é loucura,
nem preciso ir à rua.
Vejo e escuto tudo
do meu apartamento.


Foto: Rastro de míssil

Pesadelos


O vazio do medo
mais antigo
em dois pesadelos
consecutivos.
Desejo não ser
um aviso
e ser ainda cedo
para o convívio
com a ausência
do meu abrigo.

Figura: Um rascunho daqui!

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Questione o diamante


Não deixe as dúvidas
distantes da procura
por algo maior
possuidor de um brilho
ofuscante e intrínseco
no valor do verdadeiro
ou falso diamante.


Figura: O maior diamante da Galáxia

domingo, 21 de outubro de 2007

Criança dançando no Festival Ratha-Yatra (13-10-07/ Leblon-Ipanema-Arpoador)











Ratha-Yatra é um dos festivais mais famosos e tradicionais da Índia, onde Jagannatha, Seu irmão Baladeva e Sua irmã Subhadra (que são reconhecidos como manifestações divinas do Senhor Krishna em forma de Deidades), celebram a chegada da primavera saindo de Seu templo em primorosas carruagens para, misericordiosamente, concederem bençãos a todos.


3 vacas do "Cow Parade"







sábado, 20 de outubro de 2007

Água doce e vida sem sal




O platônico seria cômico
se não remetesse
a um desarmônico passado.
Nele não havia como ir
do interior para as margens
do litoral não literal.
Interior e exterior isolados.
Interior com água doce era
igual a uma vida sem sal.


Foto: Junho de 2005 - Itacuruça

Inutilidades voam




Preciso da sobriedade esquecida em casa
pela falta de espaço na bolsa.
Insisto em carregar comigo a inutilidade
esquecendo que ela anda sozinha,
e quando quer, até voa
atraindo outras, como andorinhas.


Foto: Matéria Jornal Hoje

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Rotação




Se foi ou não sabotagem
pouco interessa.
E este pequeno interesse parte
do fato que o mundo gira
embora não seja depressa.
Daqui de dentro,
muitas tarefas para poucas horas.
Enquanto que do universo,
o vácuo torna o processo lento.
Um dia não parece uma volta.


Foto: WEB.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Cidade de passagem




Por ser uma cidade de passagem,
as estradas não possuem retorno.
Os viajantes se distraem
apenas uma vez
com as paisagens.
E não há consolo
para os que nada vêem
depois das seis.
Como não há postes,
depois dessa hora
a única forma de luz
é uma vez por mês
com a lua cheia.
Então ficam eles viajando
com um desgosto,
ou com o gosto de viagem mal feita.


Ilustração: Curitiba do Gralha

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

(in)certezas na beleza do abstrato




A incerteza é um sutil traço no quadro
que já é incerto, por ser abstrato.
Mas a certeza nunca vem de fora,
vem de dentro da cabeça.
Depois que passa dos olhos
é que se distorce a beleza
de qualquer jeito que ela seja.
Pelo simples fato de ser o que é
belo para qualquer um que veja.


Quadro: Wassily Kandinsky - Sem título, comumente chamado " Dilúvio " ( 95 X 150cm ) - 1914

domingo, 14 de outubro de 2007

Árvores na areia (14-10-07/ Ipanema)




1ª !



2ª !



3ª !



4ª !

P.A.I.S


Ele reforma
pra ir embora.
Ela esquenta a água
para deixar morna
e esquece
que se demais aquece
levanta fervura.
E se derramar...
Queimadura?

Figura: WEB

A janela fechada




A janela fechada
estragou as surpresas
trazidas pelo vento.

Foi a escolha de alguém de dentro
que se protegia das poeiras
e dos estrondos das portas batendo.

Talvez também não quisesse
folhas secas, penas de pombo
e ficar ao relento.

E com tanta proteção,
até da beleza externa
seu olhar ficou isento.


Foto: 30-09-07 - Casa França-Brasil

sábado, 13 de outubro de 2007

Metáforas para a perfeição perdida


O submerso
que não chegou ao ar
atmosférico.

O solo tão profundo
que não conheceu
o mundo.

O belo segundo
que não eternizou-se
na foto.

Posso metaforizar
de diversos jeitos
o que perfeito
era pra ser.

Ilustração: Núcleo da Terra (ou o solo tão profundo)

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

O gosto do silêncio


O silêncio tem gosto
da saliva esquecida
dentro de nós mesmos.

Engolida e perdida
na imensidão finita
da extensão corpórea.

A memória não volta
a falta de sabor
por ser como água própria.

Indolor e incolor
mas a essência é
perceptível por ter valor.

Figura: Saliva é água de fonte própria? - WEB

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

O espelho




O espelho serve como prova
de uma troca? Talvez um erro.
E a tentativa de conserto
não provoca o acerto.
Pelo contrário, o real esnoba
o simples reflexo
que se sufoca pelo peso
de ser o que é.
Preso no quadrado das representações.
E não há porta de saída
em nenhum dos quatro lados.
Explicado o medo de sair,
já que seriam necessários cacos.
Então a cópia se questiona:
Ser o que é em pedaços?
Ou não ser por inteiro?


Ilustração: Rene Magritte - The Dangerous Liaison, 1926

sábado, 6 de outubro de 2007

Centro no último dia de setembro



"A minha grande nostalgia é de nada, é nada, como o céu alto que não vejo, e que estou fitando impessoalmente." (Livro do Desassossego - Bernardo Soares)



A estátua que trouxe uma flor.



Uma rua.



Pimenteira na Casa França-Brasil.



Lâmpadas e o anjo.



Palácio Tiradentes da varanda da casa França-Brasil.


quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Mundo particular




Inundo meu mundo particular
através de correntezas de palavras.
As letras do alfabeto são
como partículas de água.
Então se moldam e cabem
em qualquer lugar
como se nada fosse.

E assim, de forma delicada
molha os móveis e objetos
ocupa a casa até o teto
e obriga a pintura das paredes
com novas e belas cores.
O que significa no caderno
muitos versos sobre...


Foto: Sala de aula - setembro de 2007

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Annie Leibovitz




A fotografa que faz a idéia da foto brilhar mais do que as estrelas.

Algumas de suas fotos aqui!
Aqui também!

Vi no Festival do Rio e recomendo: Annie Leibovitz; vidas retratadas ou Annie Leibovitz: Life Through a Lens (Título em inglês).
Um pouco do filme aqui.

Para 28 anos de mãos dadas


As mãos dadas mais antigas soltaram-se.
Será para uma despedida?
Ou será para um passeio?
Passeando elas experimentam
a sensação de estarem perdidas.
Só se acha, quando se perde.
Os anos às vezes pedem
um labirinto
para o caminho reto
voltar a ser lindo.

Figura: WEB

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Pétalas brancas




Ela sente falta de pétalas brancas,
aquelas que a simples admiração arrancam a paz
que foi arrancada pela colocação do cimento
que também arrancou a sombra, a grama e o vento.

E com tudo arrancado, o que lhe resta
é a observação de canteiros.
Pequenos coloridos entre prédios cinzas.

E para a vida num quadrado certo: regador.
E para a vida acinzentada: remédios e um vaso
no parapeito da janela com uma planta
com uma flor de pétalas de qualquer cor.


Foto: Marquês de Abrantes.