sábado, 28 de fevereiro de 2009

(pre)ocupações




Preocupo-me.
Ocupo-me com as preocupações.
Pré-ocupações?
Por que não pós-ocupacões?
Melhor seria ocupar-me sem qualquer prefixo.
Prefiro a falta das antecipações.


Foto: apintogs pinto

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

apetitosa paisagem




a água não encharca o pão
mesmo ele sendo
de açúcar


foto: aterro - maio de 2008.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

no final da festa




pouco importa
se é um soco
ou uma torta

um bolo ou um roxo
no corpo
a mente não ignora


foto: aniversário pô - junho de 2008.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

"Biciclieta"




A bicicleta me aquieta...
Enquanto pedalo
converso com meu silêncio
tão raro mas sempre intenso.
Um percurso de paz
com o sussurro dos ventos.
Escuto o que não sou capaz
quando dentro de um apartamento.


Obra: "Andando de bicicleta" - Flávia Pedrosa

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Torta na cara





Não devemos temer o ridículo. Desconheço a razão pela qual e pelas mãos de quem o adjetivo citado tenha ganhado uma conotação tão pejorativa. Sou a favor da “despejorativação” do ridículo já! Para tal não é preciso torna-se militante ou ativista, basta uma mudança de postura, exatamente como aquele velho papo de desligar a torneira enquanto se escova o dente. Ainda não conseguiu vislumbrar um exemplo? Pois bem...
Há duas maneiras de levar uma torta na cara. A primeira é correr para fonte de água mais próxima e limpar-se. Isso é como assinar em público um contrato com a parte lamentável da ridicularidade. Já a segunda é degustar cada pedaço amassado na face. Saboroso não? E o melhor, não foi você que foi até a torta, ela foi até você. A idéia central é: coma todas as tortas na cara que levar! Mas há um detalhe importante, e que de tão importante até deixa de ser detalhe: não basta comer, deve-se saborear. E se por acaso forem muitas tortas e a balança alterar, corra! Claro que não da torta. O ideal é ser um fugitivo do imaginário em uma esteira ou em um parque qualquer. Vale a pena cada caloria, eu garanto!

Foto: Muro em frente ao Ateliê do Imagem - Janeiro de 2008.

"Inunada"




São apenas pés submersos
mas já considero todas as extremidades
em águas profundas.
É a saudade que inunda...


Foto: Renata Ludwig

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

"Melancolíquida"




Deságua. A melancolia é líquida
e possui intensidade de um riacho.
Passa passando...
Sem graça por enquanto.
Disfarça as poucas lágrimas
para uma represa de prantos.


Foto: Represa da Usina - MG

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

A ironia das minhas palavras




Palavras, uma busca constante. Quando distantes, assusta. Quando próximas, me puxa. Para onde? Não, não é lugar. É como horizonte, antes de ir já se sabe que no alcance virá um outro para alcançar. É no indescritível que minha relação com elas se explica, e tal constatação torna tudo ainda mais inexplicável, pois é através delas que tento explicar-me, e para mim.

Foto: o velho caderno de bolinhas.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

A contramão do asfalto




Grama e areia para meus pés
cansados da rigidez do chão.
Monótonas são essas distâncias
sempre com a mesma exatidão.
Exato no percurso, no impacto,
na cor...

A construção de caminhos
na cor cinza das sombras
findam qualquer beleza
do que natureza (a)pronta
de forma idônea e espontânea.


Foto: José Silvestre

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

O primeiro teto esquecido




Fuga para dentro. Enfrento ou não?
O mundo é tão extenso, nós é que o transformamos em menos.
O finito é criado, enquanto que o infinito é dado.
A contradição da criação que na teoria traria a liberdade.
Esquecemos que o nosso primeiro teto foi o céu.
Tijolos e cimento para consolidar esse esquecimento.
Consolidação infeliz e que não entendo.
Entendendo ou não, prende. Ou eu que me prendo?

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Férias de Janeiro





As férias começam a se despedir. Em menos de uma semana terei hora pra acordar e aulas para assistir. Confesso que há um fio de saudade. Mas é só um fio e que não chega a costurar um entusiasmo maior. Na verdade ainda visto essas férias e há motivos para isso. Em Janeiro curti essa cidade como nunca. Não me lembro de no passado ter sido tão carioca. Nunca fui tanto à praia, e o mais importante: ida e volta de bicicleta. Não tem preço, no sentido literal e figurativo da palavra.
O trajeto dessa aventura de valor imensurável começa no Aterro com suas árvores geradoras de confortáveis sombras. Logo depois vem a Praia suja e igualmente bonita de Botafogo. Surge então uma subida. Nos primeiros dias era um desafio, as pernas doíam, mas nada que não me permitisse continuar pela ciclovia e chegar ao Rio Sul. Após este logo vem o momento mais escuro e poluído do percurso, o túnel Novo, também chamado de Túnel do Leme. Mas passar por ele é fundamental, afinal só passando pelo mesmo que se deixa de freqüentar as praias sujas da Baía de Guanabara para então freqüentar as praias limpas do mar aberto. A liberdade dos oceanos com certeza trás mais limpeza as águas. E a pedalada continua, até onde se quer. Praia do Leme, de Copa, Ipa ou Leblon? Prefiro Ipanema. Em geral opto em ficar entre esta última e o Arpoador. Há um ponto que a areia é curta e entre um mergulho e outro é possível observar o bicicletário e ter certeza que está tudo certo com o meu querido veículo ecológico, apelidado carinhosamente de “Vermelissa”. Afinal, por mais que meu cadeado seja bom e que essa cidade seja realmente maravilhosa, não podemos esquecer que estamos no Rio de Janeiro. Mas colocando essa preocupação de lado, confesso que viro criança com os mergulhos na água sempre verde. Um breve arrependimento surge pela minha demora em descobrir que essa lavada da alma gratuita sempre esteve disponível, e a apenas 45 minutos de pedalada da minha casa. Mas enfim, antes tarde do que nunca. E nunca um mate da lata cai mal. Então gasto o que seria a passagem de ônibus em um copo de mate com limão estupidamente gelado, saboreado em frente ao mar. Infelizmente é necessário voltar, afinal de tarde tem trabalho, mas com uma manhã dessas, tudo se torna mais fresco e bonito, principalmente o resto do dia.
Até o dia 20 minhas férias foram basicamente isso, apenas com alguns diferenciais no que tange companhias e horários. Dia 21 um sonho alimentado por todo o janeiro começa a tornar-se realidade: a passagem para Ouro Preto comprada, pro dia seguinte, as 23:30.
O começo da viagem foi conturbado. Três culpados: o funcionário da agência de viagens e nós mesmos, eternos distraídos. Não percebemos que a passagem estava com data para um mês depois. Será que o nosso inconsciente queria nos colocar pra viajar em pleno Carnaval? Trinta reais e duas horas de viagem além do previsto, com direito a carona do simpático Carlos, chegamos enfim em Ouro Preto.
Chovia, e deu um certo desanimo na Rodoviária, mas que logo foi dissipado com a primeira andança pela cidade, que até debaixo de chuva é bela. E antes de completarmos uma hora na cidade, o meu encanto por uma farmácia que ainda mantinha toda sua decoração original de um século atrás, me fez conseguir um lugar para nos hospedarmos. E com a leveza e tranqüilidade de não ter mais malas nas costas, começamos o sobe e desce pelas ladeiras. Enquanto as pernas cansam, a vista se encanta. Apenas os carros me davam a certeza de estar no século XXI. Não posso esquecer de citar meu companheiro de viagem e dos últimos dois anos, que assim como eu, tanto curte visitar as Igrejas como também tomar uma Heineken de 600 ml no boteco. Esse ímpeto de conhecer tudo e aproveitar cada hora faz toda a diferença. Fomos a seis Igrejas, dois museus, alguns botecos e restaurantes e uma pizzaria a lenha. Fora uma padaria chamada “Cantinho do Pão de Queijo”, que possuía o melhor desses pães típicos de Minas. Acho que meu paladar para estes nunca mais será o mesmo. Não posso deixar de falar das Igrejas. Mesmo não sendo católica, realmente impressionam. Os tetos e as esculturas são incríveis, e mesmo possuindo influência européia, já é perceptível alguns traços nacionais, como a presença de vários santos negros. Ainda mais incrível é imaginar que a maioria delas foram construídas em meados de 1700.
Por mim continuava as perambulações por essas ladeiras cheias de charme, mas a estréia de um filme na 12ª Mostra de Cinema de Tiradentes nos esperava. Então lá fomos nós pegar mais algumas horas de estrada. Compartilhamos da mesma sorte de Ouro Preto, e em menos de uma hora já estávamos hospedados. O choque não foi muito grande, as cidades são bem parecidas, só que a nova é bem menor e com menos ladeiras, para alegria das minhas pernas. De diferente apenas o clima que o Festival causa na cidade, que fica com muitos jovens “cults” e intelectuais. De noite muita ansiedade pela estréia do filme e muita alegria pelos reencontros. E horas antes de partir uma família cheia de luz tornou a viagem mais feliz do que já estava, fui surpreendida por um bolo de aniversário dois dias antes dele chegar. Voltei pro Rio com pedaços de bolo de nozes e vinho na barriga, queijo e cachaça na mala pra festa de aniversário, e 581 fotos para lembrar desses dias pra sempre.
Além da mala, confesso que carregava saudades dos amigos, e nada melhor do que a minha festa para tirar esse peso de uma vez só. Então na noite do dia 29 todos presentes e juntos para comer pão de queijo e tomar cachaça comigo. Ainda teve bolo, mas esse era do Rio mesmo. E entre lembranças, queijos e fotos, terminei esse Janeiro inesquecível e feliz.

Foto: No cantinho do pão de queijo - Ouro Preto - MG.