O piscar das luzes de Natal não cansam em alertar meus olhos que mais um ano chega ao fim. Logo duas coisas tornam-se inevitáveis: a reflexão sobre este e a procura por uma agenda para o próximo.
A questão da agenda foi resolvida em uma ida “rápida” à papelaria pouco antes do Natal. O dilema “essa ou aquela?” demorou cerca de uma hora. Já a reflexão sobre o ano que ainda respira, embora ofegante, se desenrola há dias. O começo está em um rascunho em letras de beleza duvidosa. Mas de que foi um bom ano para mim, disso não tenho menor dúvida. Infelizmente o mesmo não pode ser dito sobre aqueles com quem possuo convivência diária, principalmente para os responsáveis por eu estar aqui nesse mundo.
Entre descobertas e infantilidades, fui obrigada a assistir o que já me recusava há tempos: uma novela. Infelizmente real, e envolvendo os que me geraram. O curioso é não haver mocinha, vilão e final, nem mesmo infeliz. Embora infelicidade é o não falte nessa história que continua a se desenrolar no quarto ao lado.
A primeira metade do ano também foi um tanto complicada para aquele com quem compartilho todas as minhas receitas vegetarianas. O medo das mudanças, até mesmo as previsíveis, faz mal para qualquer um. Mas como ser qualquer um é o que ele não é, foi impressionante vê-lo transformar o que seria ruim em bom. E assim assisti a outra metade do seu ano ser bastante doce, exatamente como os corações de abóbora com que fui presenteada por ele certa vez.
Apesar dos três personagens dos fatos descritos acima sejam bem próximos, confesso que minha rotina e humor não foram muito alterados com tais acontecimentos. Não é egoísmo, é uma indiferença necessária para a manutenção da paz interior. Entretanto, ser indiferente não foi possível quando tive encarar minha “questa” com a saúde debilitada, já com o ano pra terminar, exatamente no dia seguinte em que entrei de férias na faculdade. Ver aquela que era, e continua sendo, sinônimo de força e coragem, necessitando de ajuda para executar coisas simples, como andar e levantar da cadeira, não foi nada fácil. Meu emocional despedaçou-se. A tristeza tranformou-se em mau humor e cansaço físico. Felizmente, com todas as providências tomadas, e muito pensamento positivo (também chamado de fé por alguns), sua saúde e todo o resto começa agora a voltar ao normal. Inclusive o melhor presente de Natal veio dela: a própria independente em casa, sem ajuda de ninguém, durante a manhã do dia 25.
E depois de todos esses relatos, quem me lê deve-se perguntar: Onde está o "bom ano" mencionado no início do texto? Sim, particulamente e sendo até um pouco egoísta, foi bom mesmo. Arrumei meu primeiro estágio, e depois o segundo. Adquiri equipamentos fotográficos novos. Estou cada vez mais satisfeita com a faculdade. Tive minhas primeiras fotos publicadas. Ganhei meu primeiro dinheiro na profissão que escolhi. Encontrei com as minhas duas maiores amigas quase todas as semanas. Apaixonei-me ainda mais por quem já era apaixonada. Tornei-me mais fã de Novos Baianos. Eu e meu vô construímos uma cumplicidade pela qual tenho muito orgulho. Comprei muitas bolsas (sim, futilidades também proporcionam pequenas, mas que não deixam de ser alegrias). Escrevi muito (o caderninho de bolinhas acabou!). Fui à praia. Bebi muitas Itaipavas, mates com menta e Boemias. Fui diversas vezes no Bar do Zé e no Trombada. Passeei muito pelo Centro do Rio nos fins de semana. Fiz poucos, mas belos passeios por Santa Teresa. Fotografei bastante o que mais gosto: flores. Assisti filmes que me emocionaram ( um documentário sobre parto natural e outro sobre o furacão Katrina) e shows que me encantaram ( Maria Bethânia, Madeski Martin & Wood e o último da Relics). Também senti encanto ao ler o "Água Viva" da Clarice. Almoçei todas as segundas, quartas e sextas com a vovó. A Vermelissa voltou a passear por aí. Enfim, nada de espetacular, mas quem disse que a felicidade é um espetáculo? Para alguns pode até ser, mas pra mim é acordar com a cara amassada ao lado de outra cara amassada, pegar o celular pra saber das horas e constatar que tem uma chamada perdida da Vovó. Ligar e ela me dizer que está me esperando pra almoçar. É dessa forma que abro então meu sorriso mais sincero, e são desses que quero para no próximo ano, afinal neste que termina compreendi definitivamente que são nesses fatos corriqueiros que sou mais feliz.